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O PROBLEMA PSICOLÓGICO DO HOMEM É INCONCEBÍVEL SEM O HORIZONTE METAFÍSICO


O esvaziamento do ser humano que se concretiza nos últimos tempos é uma realidade incontestável. Se por um lado, o progresso e o desenvolvimento têm trazido elementos interessantes para acrescentar à qualidade de vida humana, por outro, tem conduzido a um niilismo absurdo. Perdeu-se ao longo do tempo uma consciência que procura valorizar a construção de um Eu interior e priorizar elementos externos como forma de realização e de sentido. Ora, essa busca externa não tem consistência e nem possibilidade de responder a ânsia de felicidade do ser humano.



Por quê?

“...fora da interação do próprio centro, o homem mantém-se um alienado em perpetua busca. Corpo físico, saúde, prazer, poder, dinheiro, cultura, história, ciência etc...Jamais serão o substitutivo válido do seu dever ser autêntico interior”. (MENEGHETTI, Antonio – Filosofia Ontopsicológica – Ontopsicológica Editora Universitária – Recanto Maetro 2015 p.38).



Partindo desse pressuposto fica explícito o quanto a atual educação das novas

gerações estão privadas de uma visão do “todo existencial”. Observa-se que a prioridade no hoje da história é de natureza mercadológica e menos uma preocupação com a formação do homem e da mulher em sua dignidade. O ser humano foi reduzido a uma reificação. Ora, urge repensar o Eu da pessoa, pois a mesma vive em função do externo e, assim priva-se dos valores que induzem à síntese entre a consciência ôntica em sintonia com a presença do Ser em si.



Afinal, o homem com base no próprio ponto ôntico, é ressonância do todo, porque reencontra aquele Uno que é único em tudo. Daí infere-se que: “...se o homem se colhe na verdade é contemporaneamente no absoluto reconquistado e em tal caso deriva dali uma autoafirmação; se o homem não se colhe em verdade, não experimenta o absoluto e cai nas próprias idolatrias sem conhecer a libertadora autoafirmação em si”. (MENEGHETTI, p.39).





No atual contexto societário parece que a “verdade” se petrificou na materialidade existencial, mormente, no mercado, e assim, se dá o desnudamento da consciência autêntica. Ora, “...a civilização contemporânea vem estigmatizada pela onipotência e pela ousadia de querer escalar o progresso e o desenvolvimento da ciência e da tecnologia de forma retilínea e infinita [...] o ser humano perdeu paulatinamente a consciência e domínio sobre o próprio “Eu” [...] e assim, levou o ser humano a perder sua identidade que caracteriza seu “Eu”. (SILVA, Ari Antônio – Espiritualidade e Fé em tempos conturbados – Ed Faccat/Luzeiro – 2021 p.33).





Ora, o momento atual em que se está atravessando não deixa de ser uma mudança de época. Por isso, torna-se importante rever os passos até então percorrido, a final “...até quando eu vivo imerso como “coisa”, [e] sou forçado a sofrer o descarrilamento da dispersão; mas, quando alcanço o a priori ôntico do meu Eu, então me sinto presença metafísica de um Tu que me significa”. (MENEGHETTI, p.49).





Caro leitor! Ao observar o comportamento no conjunto da atual sociedade percebe-se um quadro de confusão de conceitos e valores seguido de angústias, depressão, doenças exóticas, distúrbios psicossomáticos, tristeza, muitos suicídios, desajustes familiares e etc. Talvez esse seja o preço de um ser humano que se ensimesmou em sua própria contingência, e assim, obstaculizando a possibilidade de um avanço significativo em direção ao “sentido”.





Em contrapartida, o homem contemporâneo necessita levantar o olhar além de si mesmo e do seu existencial ôntico, pois “...a finitude do homem é superada por um nível fundamental ôntico que constitui o empírico transcendente”. Por quê? “Jamais será possível uma psicologia global do homem até que não se recupere o homem aquém do “iatus” mecanicistico”.








A IMPORTÂNCIA DO PSICOTERAPEUTA NA CONDUÇÃO DO PACIENTE EM NOSSO TEMPO



Na prática o que significa a presença de um terapeuta? “...conduzir o paciente a perceber a sua presença até a raiz da própria interioridade. Essa relação é conduzida pelo psicoterapeuta segundo um processo de Eu-Tu”. (ibidem MENEGHETTI, p.50). Em outras palavras quer-se dizer que o psicoterapeuta deve levar o paciente do Eu disperso como coisa, ao Eu recolhido em perseidade ôntica. Nos últimos tempos consciente e/ou não se vive em muitas ocasiões da vida uma dispersão anônima como simples parte de uma massa humana, de modo despersonalizado, deixando-se plasmar em conformidade ambiental e, por isso, em estranheza consigo. Portanto, à medida que cada homem conhece a fundo o próprio ser pessoal em dimensão metafísica, é que ele próprio possui uma recuperação consciente do projeto ôntico que a seguir se torna critério ético integral para o indivíduo.



Caro leitor! O grande desafio àqueles que orientam pessoas é saber que “...para curar o homem, é preciso antes individuar o ponto de convergência de saúde, o ponto fulcro do equilíbrio geral. Todo e qualquer mal não será mais que discrepância de tal ponto”. (ibidem p.53).



E segue:

“...tudo o que percebo de mim é o ‘Eu” individuado, o Eu histórico; o Eu a priori que me possui e que sou, é inalcançável e postula-se sem fim como realidade última depois de cada fenomenologia minha e enquanto consciência. O destino, por enquanto inalcançável, é a pura atualidade do Eu metafísico reconquistado além da fenomenologia, aquela atualidade onde o Eu simplesmente “é” e não “significa””.



É importante frisar nesse contexto que o “...único conhecimento que pode dar a transparência do todo como inteiro é o próprio ser em si”.

Portanto deve ficar claro que: “...o significado de bem-estar mental é dado quando a imediata contingência histórica está em coincidência com o significar-se no homem, caso contrário, o ôntico não pode autorrefletir-se e é a distorção, a neurose, a alteração orgânica e a vingança da máquina”. (MENEGHETTI, p.53).




“DEUS É O ALÉM QUE ESTÁ NO CENTRO DA NOSSA VIDA”

(Dietrich Bonhöffer).



Bonhöffer, foi um teólogo e pastor luterano que observou e destacou que a intima profundidade do homem da qual toma concretude todo valor, quando não é concebido como ser-aí, decorra que qualquer discurso de elevação, ou abstração, não é mais que fuga da imanência do único critério. Portanto, diz ele, o nosso discurso deve ser uma imersão, no “ser-aí”. Daí que “...não existe a justiça, mas os justos; não existe a vida, mas os viventes. Quando afastamos o homem da própria profundidade, origina-se o processo que reifica o homem”. (op cit Bonhöffer in Meneguetti, p.55).




Em síntese cumpre afirmar que: “...toda consciência de mim é metáfora de um Eu ôntico em diálogo misterioso com o TU supremo, o qual, pela sua forma de “Eu Sou”, funda a minha identidade. Devo superar todo ter do Eu-coisa para encontrar a pureza do Eu em disposição daquele Tu que exclui toda “coisidade” no devir”. (MENEGHETTI, p.54).



E o autor segue:

“...o Em Si ôntico é projeto querido e vivente do Ser que único é. Essa autenticidade constrói-se com conhecimento e ação com saber e vontade. [por isso] meditações, orações, asceses etc. são inúteis se quem age não é autêntico no ser que o apela”.






É PRECISO TER CONSCIÊNCIA DE QUE A SOCIEDADE MODERNA TENDE A GERAR UM HOMEM VAZIO DE INTERIORIDADE.



O momento histórico, especialmente a sociedade ocidental vive o paradoxo de uma cultura do ruído e da superficialidade como também de uma postura de surdez interior que não consegue mais abrir-se à Boa Notícia de Deus. E por isso vive embrenhada na noite da razão extrema dominada e cega pelo progresso. Para onde e por onde caminhamos?


A verdade é que o momento atual é complexo e cheio de tensões e contradições. Por outro lado, as filosofias modernas entendem que a crise fez morada no horizonte da atualidade. A aparente harmonia de um mundo unificado e coerente está cada dia desmoronando. Portanto, não deixa de ser uma situação de crise generalizada. A crise é um fenômeno que se estendeu a todos os domínios da existência humana. Hoje pode-se dizer que há crise metafísica, cultural, religiosa, econômica e ecológica. Há crise na família, na educação e nas instituições sociais. O que significa isso em termos práticos?


“...em boa parte caíram os mitos da razão, da ciência e do progresso: a razão não está nos levando a uma vida mais digna e humana; a ciência não nos diz nem como nem para onde devemos orientar nossa história; o progresso não é sinônimo de felicidade para todos”. (PAGOLA, José Antonio Anunciar Deus hoje como boa notícia – Ed/Vozes – 2020 p.16).



Ora, o momento é de incerteza e de muita inquietação. Por quê? Vive-se uma situação de total descrédito e desconfiança, a final as grandes ideologias do século XX levaram a humanidade às maiores tragédias da história, e pior, há um cinismo econômico, principalmente dos países mais avançados que mantém na fome e na miséria um terço da humanidade.



Por outro lado, continua o processo de ruptura desencadeado pela ideologia do iluminismo, e, no hoje, é somente multiplicidade, diversidade, diferença. Por outro, percebe-se a verdade fragmentada e parece que não se tem interesse em buscar um fundamento metafísico. Tal postura acentua cada vez mais uma visão de mundo individualista. Ora, essa crise tem como fruto, sem margem de dúvida, o niilismo, justamente pela falta de vontade em buscar os “porquês” da existência.



É bom lembrar que já o pensador Friedrich Nietzche anunciava: “...o niilismo seria a grave enfermidade das sociedades modernas”. Vive-se nesse momento histórico com a “sensação de que os valores, as normas e princípios que em tempos idos regiam a existência já não servem mais. Portanto, uma vez instalados nessa crise, os indivíduos pendem cada vez mais para atitudes impregnadas de niilismo e pragmatismo”. (PAGOLA, p.17).



Há ainda uma outra característica desse tempo, ou seja, uma visão fatalista da vida que

parece ser impossível frear ou mudar esse curso da história. Se por um lado, muitos não mais acreditam nos valores do passado, por outro, não sabem o que poderia devolver a esperança a humanidade desencantada. O trágico nesse paradigma é que resta apenas a frágil liberdade do ser humano e, dela, depende o futuro. É preciso retomar uma visão antropológica do homem como totalidade.




Sempre é bom repensar o caminho que se está trilhando!




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