O MOMENTO HISTÓRICO É DESENVOLVER UMA ESPIRITUALIDADE PLENA E ÉTICA

Os sistemas até então conhecidos, não têm respondido aos anseios de um mundo mais justo e inclusivo, mas sim, sempre estão focando a exploração tanto de natureza humana quanto ambiental. Tudo, com raras exceções, até o momento presente a humanidade sempre jogou na lógica de acumular riquezas não para o todo da sociedade, mas de maneira egocêntrica. O objetivo de ter mais parece ter se petrificado no imaginário da sociedade e esta movida pela ganância. Para tanto se esmagaram ao longo da história culturas e povos nativos com as suas diversas etnias, pelo simples fato de buscarem aquilo que satisfazia o desejo de poder e riqueza.

Esse paradoxo atinge de forma doentia todo o gênero humano como se a experiência da partilha não pudesse fomentar o progresso e o desenvolvimento da sociedade para um viver com dignidade e de maneira fraterna. É importante frisar que as riquezas adquiridas por culturas que ainda hoje são dominantes, lamentavelmente nem sempre são frutos da justiça, da solidariedade, da partilha e do crescimento mútuo, mas ao contrário, em muitas trazem no bojo de sua história o massacre de outras culturas autóctones ao se considerarem superiores às civilizações nativas. Os verdadeiros donos das terras, lamentavelmente foram em grande parte dizimados para favorecer e alimentar a ambição de alguns e que hoje são colocados como grandes feitos históricos, mas, pergunta-se: A que preço?

Por outro lado, percebe-se que a cegueira ao qual o sistema neoliberal conduziu a humanidade nos últimos quatrocentos anos como um todo, infelizmente deve-se afirmar que se não houver nos próximos anos um retorno a uma Conjuntura Política socioeconômica tanto em nível local quanto mundial respeitando a dignidade humana e o meio ambiente, chegará a uma implosão caótica em todos os sentidos. É nesse estágio da humanidade que se situa a sugestiva Encíclica de Francisco, “Fratelli Tutti”. Ainda é tempo para uma reversão do atual contexto. No entanto, está a exigir mudanças comportamentais de cada pessoa que vive neste Planeta, a Casa Comum.

Por quê?
“...uma série de problemas globais estão danificando a biosfera e a vida humana de maneira alarmante”, realidade esta que tornará a situação insustentável. Um dos pilares para solucionar a encruzilhada do atual paradigma é um “novo modelo de coexistência”, o que na prática da vida significa a aceitação das diferenças com um fim explícito: a convivência humana em todas as dimensões, principalmente na forma de pensar o próprio progresso e o desenvolvimento.

Por outro lado, é preciso clarear o significado da busca de um novo ser humano. Trata-se do nascimento do “SER ECOLÓGICO”, ou seja, aquele que tem a consciência de sua ligação com o Planeta e com todo o Cosmos.

Portanto:
“...o ser ecológico aborda uma nova estrutura de comportamento humano apoiada na visão ambiental, [pois] ele fortalece o olhar para a realidade baseada na visão sistêmica”. (HOFF, Luiz Felipe, Ponto de Ruptura – Desafios da Sociedade Sustentável, 2008 p.36).

Ora na praticidade existencial significa ter uma maior abrangência do que seja o conceito de vida e, nesse sentido é que emergirá um cidadão que trará para o conjunto da sociedade um novo e consciente cidadão. Deve sempre se ter presente que toda a Conjuntura Política socioeconômica deve entrar para uma nova era, seja de natureza social, política, e principalmente no setor da economia onde a mesma não estará mais a serviço de si própria, mas sim, voltada para um crescimento e desenvolvimento que é o conjunto de fatores organizados para a totalidade da vida.

Por outro, a situação da crise atual tem mostrado cada vez mais que não se pode pensar, [por exemplo, a crise ambiental de forma isolada, exclusivista e imediata, mas como algo a ser construído paulatinamente em vista de um futuro que vislumbre o crescimento, o progresso e o desenvolvimento que tenha sempre como fundamento a sustentabilidade. Tal pensamento quer-se dizer pensar não apenas no agora, mas também e principalmente nas futuras gerações.

Por isso é mister saber que:
“...as razões da crise ambiental planetária são diversas e as soluções apontadas estão em fase de construção”. (HOFF, 2008 p.39). E o autor segue:

“...entretanto parte da solução exige que se faça uma reflexão filosófica e existencial sobre a Humanidade e o homem quanto ser individual, [que] continua na aventura de sua felicidade individual. O homem continua fazendo uma caminhada em busca de maior conforto físico e segurança pessoal, e redescobrindo o seu papel neste novo contexto na sociedade global. Este equilíbrio, entretanto, é mais eficaz quanto mais rápida for a sua conscientização”.

É importante neste momento de nosso contexto social, embora paradoxal, parar e revisar os valores que elegemos como prioridade na construção de nossa Casa Comum. Não é mais possível e nem há espaço na realidade hodierna para uma visão unidimensional ao focar apenas e somente como valor a tecnologia, a ciência, o mercado mesmo que são importantes e necessários, mas é preciso a busca de um equilíbrio em todos os sentidos, principalmente focados na ética da inclusão e da sustentabilidade e, sem dúvida a redescoberta da uma espiritualidade madura, autêntica, sensata e nunca fundamentalista, pois os reducionismos sempre nos induzem ao caos, às tragédias em todos os aspectos da existência. Daí é que se infere a necessidade de um pensar sistêmico.

A visão cartesiana da vida tem empobrecido o percurso da humanidade, pois na prática significou um raciocínio linear e puramente analítico. Ora essa maneira de pensar tem nos conduzido a ver as pessoas não como seres humanos com sentimento, percepções, mas máquinas. O resultado ao verificar a história da humanidade é a frieza com que muitas civilizações foram dizimadas em nome do progresso, do desenvolvimento e por que não dizer também, em nome de Deus e da religião.

É a partir deste pressuposto que o mundo não está se reconhecendo, pois a leitura é feita a partir das partes e não da totalidade da existência. Este tipo de pensar acabou esgotando-se em si mesmo. Observe: “...à medida que penetramos na matéria, a natureza não nos mostra blocos de construção isolados, mas sim, uma complicada teia de relações entre as diversas partes do todo”. (op cit Fritjof Capra in Hoff, 2008 p.41).

Caro leitor!
A pandemia que atinge o todo planetário parece não ser algo aleatório, e sim, um sinal de alerta à visão não sistêmica, racionalista e aos fanatismos a partir de comportamentos fundamentalistas. Estes mais revelam uma sociedade formada por grupos com sintomas de demência, mania de perseguição em tudo que rodeia o mundo desta sociedade doente e despida de esperança, aliás, que retrata uma clara face dessa cultura vazia e putrefata e que necessita de tratamento.

Portanto:
“...a necessidade de sobrevivência é coletiva; a visão para abordar o problema também deverá ser”.

URGE UMA REFLEXÃO E AÇÃO CONCRETA A PARTIR DE UM PENSAMENTO SISTÊMICO EM VISTA DE UM FUTURO SUSTENTÁVEL

É preciso a essa altura do texto mostrar ao leitor o quanto é necessário à construção de uma sociedade, um novo paradigma em vista de um tecido social onde o bem comum seja prioridade e não exceção.

Por quê?
“...com as ameaças de extinção de recursos vitais para a sobrevivência do homem, percebemos de uma forma muito clara o quanto estamos de fato interligados e começamos a construir internamente e solidificar as teorias do “holismo”. (HOFF, 2008 p.46). Quando se aborda o holismo quer-se dizer a “totalidade”, ou seja, um todo integrado, cósmico em cada parte. Conceitua-se esse paradigma quando apresenta ao tecido social hodierno a Consciência de corresponsabilidade entre todos os seres na Evolução da Humanidade.

O fato é que o processo da globalização incentivado pelo sistema neoliberal tem gerado uma “nova economia” que trouxe à cultura contemporânea grande e significativos danos em todos os aspectos do tecido social e que precisa de ajustes como um novo caminho de gestar a economia.

Por quê?
“...o novo capitalismo global criou também uma economia criminosa de amplitude internacional que afeta profundamente a economia e a política nacional e internacional dos diversos países. O mesmo capitalismo põe em risco e destrói inúmeras comunidades locais pelo mundo inteiro; e, no exercício de uma biotecnologia mal pensada, violou o caráter sagrado da vida e procurou transformar a diversidade em monocultura, a ecologia da engenharia e a própria vida numa mercadoria”. (CAPRA, Fritjof As conexões ocultas – Ciência para uma vida sustentável – Cultrix – Amana-Key 2002 p.217).

É preciso ter a capacidade para fazer uma leitura que esteja na subjacência de todo o contexto da atual crise societária. Por quê? “...enquanto o capitalismo global é feito de redes eletrônicas onde correm fluxos financeiros e de informações, o projeto ecológico trata das redes ecológicas de fluxos energéticos e materiais. O objetivo da economia global é o de elevar ao máximo a riqueza e o poder de suas elites, o objetivo do projeto ecológico é o de elevar ao máximo a sustentabilidade da teia da vida”. (CAPRA, 2002 p.268).

Ora, é sabido que esta forma do capitalismo global atuar é insustentável dos pontos de vista social e ecológico. Por quê? Qual é o objetivo desse sistema? Ganhar dinheiro e ter precedência sobre os direitos humanos, a democracia, a proteção ambiental e a qualquer outro valor. Pergunta-se: É isso que se quer? Em se tratando dar uma visão de totalidade do tecido social qual outro caminho tem-se para promover o bem comum como regra do progresso e do desenvolvimento em benefício de todo ser humano? O que subjaz a tudo isto? Para onde andamos?

“...a questão principal não é a tecnologia, mas a política. O grande desafio do século XXI é da mudança do sistema de valores que está por trás da economia global, de modo a torná-lo compatível com as exigências de dignidade humana e da sustentabilidade ecológica. (ibidem p.268). Por isso é importante mostrar que o problema que está diante de cada pessoa no hoje da história nesta sociedade capitalista contemporânea é que o valor central é ganhar dinheiro, e isto, caminha de mãos dadas com a exaltação do consumo material. Sem dúvida aqui entra elementos muito mais profundos que se expressam em formas a ser questionadas e que não pretendo abordar e aprofundar estes aspectos nesse texto. Mas é sempre é bom questionar e pensar. No entanto, os novos tempos estão a exigir uma conversão comportamental do ser humano para o emergir uma nova e frutuosa sociedade que progride, seja criativa, sustentável e com o objetivo de um progresso onde todos cidadãos planetários possam usufruir das benesses da tecnologia. Isso é possível e desejável.

Pense!